Enfrentando o Leão
Peter Colón
Um terrível brado penetra o acampamento. Os nativos
aterrorizados gritam: ‘Tomem cuidado, irmãos, o diabo está chegando!’. Porém, o
clamor do aviso não ajudará em nada e, mais cedo ou mais tarde, gritos agudos e
agonizantes quebrarão o silêncio, e outro homem não responderá à lista de
chamada na manhã seguinte.[1]
Era março de 1898 e o estudante de engenharia John Henry Patterson, de
31 anos, estava no Quênia para construir uma ponte ferroviária sobre o rio
Tsavo. Logo após a sua chegada, dois cruéis leões devoradores de homens
começaram a aterrorizá-lo e a seus trabalhadores. Patterson escreveu em seu
diário: “Nada os perturba ou assusta, e eles mostram um completo desprezo por
seres humanos, exceto como alimento”.[2]
Essas feras eram tão perspicazes que os trabalhadores nativos começaram
a acreditar que realmente eram o Diabo no corpo de leões. Até serem mortos,
tinham devorado cerca de 140 trabalhadores.
As Escrituras alertam que Satanás, como um leão, também é um predador
que ataca incansavelmente suas vítimas. O apóstolo Pedro, que aprendeu por
experiência própria o que é ser usado pelo Diabo, avisou: “Sede sóbrios e vigilantes. O Diabo, vosso adversário, anda em derredor,
como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1 Pe 5.8, cf. Mt 16.23).
Vencer Satanás requer vigilância diária, a cada momento. Uma vida de fé
em Jesus Cristo é uma vida de implacável conflito espiritual. Se você falhar em
equipar-se para ele, colherá as conseqüências. O alvo de Satanás é devastar a
humanidade; mas, ainda mais, aniquilar a vida dos cristãos.
Portanto, os cristãos precisam aprender e usar três princípios
essenciais para posicionar-se contra o Maligno: todo cristão precisa (1) manter
uma posição firme no conflito, (2) empregar a proteção apropriada para o
conflito, e (3) sempre manter uma perspectiva correta do conflito.
Uma
Posição Firme
Os leões de Tsavo eram os reis de sua própria terra. Eles enfrentavam
qualquer um. As Escrituras chamam Satanás de “o príncipe deste mundo” e “o deus
deste século” (Jo 12.31; 2 Co 4.4). Porém, o seu reino está sujeito à vontade
de Deus (Jó 1.12). Com isso em mente, a primeira lição na luta é aprender tudo
o que você pode sobre seu inimigo: “Nem deis lugar ao
Diabo...”; “...para que Satanás não alcance
vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios” (Ef 4.27, 2 Co 2.11).
Infelizmente, muitos cristãos são ignorantes, principalmente na doutrina
bíblica. Como os leões, Satanás e seus demônios rondam procurando oportunidades
de espalhar idéias falsas. A maior defesa é estudar, conhecer e praticar a
Palavra de Deus diariamente. Jesus disse:“Se vós
permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.31-32). Satanás é um
mentiroso (Jo 8.44). O segredo é avaliar todas as coisas pela Palavra de Deus.
Foi uma visão terrível encontrar restos repulsivos dos trabalhadores que
haviam sido atacados pelos leões de Tsavo. Patterson prometeu eliminar os leões
do local e terminar a sua ponte. Os cristãos precisam ter a mesma resolução e
permanecer firmes contra Satanás. Primeiro, ter certeza em seu coração de que o
Senhor Jesus verdadeiramente é o seu Salvador pessoal (Jo 3.16). Confesse todos
os pecados conhecidos (1 Jo 1.9). Deseje, com a ajuda de Deus, abandonar a
prática habitual de todo pecado (Pv 28.13). E, finalmente, renda sua vida e
tudo o que você tem a Deus: “Sujeitai-vos,
portanto, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7).
A Proteção Adequada
“Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque
as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para
destruir fortalezas...” (2 Co 10.3-4).
John Patterson caçou os leões usando um rifle inglês de calibre
.303 bolt-action e uma
espingarda de caça calibre 12. Ele os avistou diversas vezes, e até os
surpreendeu em uma ocasião. Mesmo assim, eles escaparam. Em desespero, ele
sabia que precisava usar todo o seu treinamento e sua habilidade com armas para
ser capaz de matá-los.
Nós, também, precisamos usar armas específicas contra Satanás. Apesar de
diferentes, elas requerem prática e habilidade para serem usadas
competentemente:
“Porque, embora andando na carne, não militamos
segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim
poderosas em Deus, para destruir fortalezas...” (2 Co 10.3-4).
Nossa armadura de guerra encontra-se em Efésios 6.11-18. A imagem usada
é a de um valente soldado romano. Para prevalecer contra o Maligno, os cristãos
precisam, necessariamente, vestir “toda a armadura de
Deus” (Ef 6.11):
Cinto
A primeira linha de defesa é a “verdade” (Ef 6.14). O termo significa ter a mente livre de
fingimento e falsidade. Satanás depende de mentiras e engano. “Cingir-nos com a
verdade” é a proteção forte contra a hipocrisia.
Couraça
Um soldado romano vestia uma couraça para proteger seu coração e seus
órgãos vitais. Um cristão precisa vestir a “couraça da justiça” (Ef 6.14b). Satanás é um acusador, que
aponta constantemente a falta de merecimento dos seguidores de Cristo (Ap
12.10). Essa tática pode ser extremamente desencorajadora.
Porém, Cristo tratou das acusações contra nós concedendo-nos Sua
justiça: “Aquele que não conheceu pecado, ele
o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co
5.21). Assim, não há necessidade de desespero: “Pois, se o nosso coração nos acusar, certamente, Deus é maior do que o
nosso coração e conhece todas as coisas” (1 Jo 3.20).
Permitindo que Deus nos torne “conformes à imagem de Seu Filho” (Rm 8.29), Sua santidade
é revelada em nossa vida na forma de uma defesa forte e diária; e podemos nos
revestir “do novo homem, criado segundo Deus,
em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4.24).
Calçado
Sandálias robustas e com cravos nas solas davam uma base confiável ao
guerreiro. Em superfícies lisas, porém, elas eram perigosas por falta de boa
tração. Os seguidores de Cristo obtêm a segurança de um fundamento confiável
através do Evangelho da paz: Jesus Cristo morreu por nossos pecados, foi
sepultado, ressurgiu ao terceiro dia, e foi visto por muitos (1 Co 15.3-6). O
inimigo quer muito fazer você deslizar, com programas e doutrinas falsas. Os
crentes precisam tomar cuidado para não escorregarem em suas emboscadas. A Boa
Nova de Cristo é a única base sólida para firmar-se.
Escudo
Um soldado da infantaria romana nunca ia à batalha sem seu escudo.
Geralmente ele era grande e retangular, com uma leve curvatura nos lados para a
proteção corporal.
As Escrituras nos contam que Satanás atira constantemente “dardos inflamados” na forma de muitas tentações. O propósito
principal de embraçar “sempre o escudo da fé” é apagar os
seus dardos (Ef 6.16). Um escudo romano também servia para encaixar-se com
outros escudos, para criar uma eficiente “formação tartaruga” na batalha. A
junção de escudos da fé com outros crentes cria uma defesa formidável contra os
assaltos espirituais (Sl 37.40).
Capacete
O capacete também era bem projetado. Ele tinha uma aba traseira para
proteger a nuca de qualquer golpe. As abas de cada lado protegiam a face, e a
da frente protegia contra pancadas direcionadas à cabeça ou à face. Obviamente,
esse equipamento era vital.
O “capacete da salvação” aponta para
nossa “esperança de salvação” (1 Ts 5.8). A palavra
esperança significa “expectativa alegre e segura da libertação eterna”. O Maligno
procura golpear nossas cabeças para plantar nelas sementes de dúvida e
desespero. Entretanto, o capacete dos crentes verdadeiros está firmemente
posicionado. Primeiro, a fé na obra consumada na cruz garante a salvação da
pena do pecado (2 Tm 1.9). Segundo, andando pela fé no Senhor, temos salvação
do poder do pecado (Fp 2.12-13). E, finalmente, podemos aguardar nossa futura
salvação da presença do pecado : “Aguardando a
bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador
Jesus Cristo” (Tt 2.13).
Espada
“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12).
Na cintura de cada soldado romano estava pendurada sua arma principal:
o gladius. Esta era uma
espada relativamente curta, afiada nos dois gumes. Em mãos de guerreiros
treinados, ela era mortal. A espada dos crentes é a Bíblia. De fato, foi apenas
a Palavra que Jesus usou com eficiência contra o ataque de Satanás no deserto
(Mt 4.1-11).
Quando estudada e aplicada, a Palavra de Deus é a defesa máxima contra
os artifícios do Maligno. Falar a Palavra com autoridade é a melhor ofensiva
para arrasar a fortaleza de Satanás (Is 49.2).
Ataques Sorrateiros
Satanás procura nos intimidar com o seu rosnar feroz. Precisamos ter a
perspectiva de Cristo no conflito.
Os leões de Tsavo espreitavam e aproximavam-se silenciosamente de suas
vítimas. O terrível rugido vinha depois que suas vítimas estavam acuadas ou
mortas. Satanás também é persistente e silencioso. Ele não alerta os filhos de
Deus a respeito da sua presença. Porém, quando consegue enganar sua vítima,
através do pecado, ele ruge com satisfação. Portanto, um cristão que se protege
adequadamente deve estar alerta em todo o tempo “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto
vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6.18).
A Perspectiva Correta
Os leões de Tsavo eram aterrorizantes. Do nariz à cauda eles mediam
cerca de três metros. Patterson escreveu que eles tentavam assustá-lo com um
olhar irritado em sua direção, mostrando seus dentes e rangendo-os
furiosamente.
Satanás também procura nos intimidar com o seu rosnar feroz. Precisamos
ter a perspectiva de Cristo no conflito. Satanás não é igual a Deus. Como é um
ser criado, ele tem limitações (Ez 28.12-19). Ele é poderoso, mas não é
todo-poderoso (Ap 12.8; 20.2). Ele não pode estar em todos os lugares ao mesmo
tempo (não é onipresente). Em vez disso, ele governa sobre demônios
subordinados que andam pelo mundo, obedecendo às suas ordens (Mt 12.24; Ef
6.12). Ele também não tem a onisciência de Deus (1 Cr 28.9). Ele não sabe de
todas as coisas.
Conseqüentemente, embora o Diabo seja um antagonista furioso, ele não
deve nos aterrorizar. Ele não é páreo para Cristo, que já providenciou nossa
vitória através do poder do Seu sangue derramado (Ap 12.11). Somente em Cristo
há libertação do poder de Satanás (At 26.18; Cl 1.13). Cristo, que vive
naqueles que verdadeiramente nasceram de novo, é maior que Satanás (1 Jo 4.4).
John Henry Patterson finalmente acabou com seus leões. Eles estão em
exibição no Field Museum em Chicago,
Illinois (EUA). Ainda agora, ao olhar para eles, seus olhos escuros e inertes
evocam terror. Contudo, eles estão mortos e não podem ferir ninguém. Um dia o
Diabo será lançado na escuridão eterna do Lago de Fogo, para nunca mais
atormentar os fiéis (Ap 20.10).
Até aquele dia, não importa quantas dificuldades e provações passemos na
vida, podemos estar seguros de que temos a armadura necessária para enfrentar o
“leão” e para sermos mais que vencedores. Além do mais, nada pode nos separar
do amor de Deus, que está em Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 8.37-39). (Peter
Colón - Israel My Glory -)
Notas:
1. J. H. Patterson, The Man-Eaters of Tsavo and Other East African
Adventures.
2.
Ibid.
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